Close Menu

Busque por Palavra Chave

Arte & manhas | Coisas boas a dizer sobre as chuvas

Por: Luís Bogo
26/04/2023 12:39
Pétalas que se cristalizam ao sabor da chuva Pétalas que se cristalizam ao sabor da chuva

Por mais que o céu esteja sombrio e que nuvens escuras pairem sobre nossas cabeças, devemos manter a esperança de que elas desapareçam, que levem para longe todos os raios e fantasmas de morte e desesperança. Por isso é que precisamos pensar nas coisas boas que a chuva nos traz.

O cheiro da chuva nos chega pelas narinas, mas nos inunda a alma. Nos afeta de tal forma que o sentimos penetrar como suaves espadas capazes de atravessar memória e coração, trazendo lembranças da infância ou doces pensamentos de amores realizados ou ainda imaginados.

O cheiro da chuva é passageiro porque se manifesta logo que ela começa a cair e depois vai embora, levado pela inundação ou enxurrada. E nunca se ouviu alguém dizer que o cheiro da chuva é ruim. Isto me faz lembrar uma canção maravilhosa, interpretada por Dolores Duran e, depois, por Gal Costa:

“É de manhã. Vem o sol, mas os pingos da chuva, que ontem caiu, ainda estão a brilhar, ainda estão a dançar, ao vento alegre que me traz esta canção. Quero que você me dê a mão. Vamos sair por aí, sem pensar no que foi que sonhei, que chorei, que sofri, pois a nossa manhã já me fez esquecer. Me dê a mão, vamos sair pra ver o sol, o sol, o sol”.

O cheiro das primeiras gotas que comove o jardim soa na alma como as primeiras pinceladas coloridas sobre uma tela virgem ou como as primeiras letras de um poema sobre o papel branco.

A chuva que cai macia, levanta do solo os aromas das frutas que caíram sobre ele. Goiabas, caquis e uvas voltam a misturar seus aromas à atmosfera. Os aromas da terra não seriam perfeitamente sentidos se a chuva não os fizesse levitar e flutuar até os nossos distraídos narizes, tão acostumados à poluição e à sujeira.

A chuva não teria cheiro se a água não se relacionasse com outro elemento, especialmente com a terra. Enquanto ficar na nuvem, a água nada será além de sombra. Para que ganhe cheiro, paladar e cor, precisa cair. E, quando cai, ganha cheiro distinto de acordo com o solo onde cair.

Chuva e palavra têm aromas parecidos. Enxurradas não têm perfume, por isso me contenho na verborragia.

Ao falar do cheiro da chuva, me atenho apenas à primeira e perfumada impressão. Depois que ela cair, olharei para os canteiros, esperando que ela apenas tenha regado e não despetalado todo o jardim.

Quero sentir o cheiro da chuva e, ao senti-lo, olhar para as folhas e pétalas que vão refratar a luz, formando pequenos arco-íris em torno da janela e dos meus olhos. O cheiro da chuva não contém apenas cheiro, mas tem cor e sabor.


Semasa Itajaí
Alesc - Novembro
Unochapecó
Rech Mobile
Publicações Legais Mobile

Fundado em 06 de Maio de 2010

EDITOR-CHEFE
Marcos Schettini

Redação Chapecó

Rua São João, 72-D, Centro

Redação Xaxim

AV. Plínio Arlindo de Nês, 1105, Sala, 202, Centro